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Mr Robot: o cyberpunk não morreu


Escaneando a web por alguma coisa que me motivasse recentemente a assistir na TV, me deparei com uma frase: Mr. Robot é o show de hackers que devia ter sido feito desde sempre. Daí, claro, veio à minha cabeça todas aquelas ideias e clichês do que Hollywood acredita ser hacking, e não dei chance à série, nem à resenha. Duas semanas depois, vários blogs de sci-fi começam a incensar a série, e claro que fui conferir do que se tratava.

Paranóica como K Dick, futurista como Gibson, alucinada como Palahniuk, com referências a Transpotting, Psicopata Americano, V de Vingança, e toneladas de filmes dos anos 80, isso só arranhando a superfície da narrativa do problemático Elliot, um hacker de verdade que decide se tornar um vigilante numa cruzada contra uma má Corporação de trilhões de dólares. A série é um desfile de referências hackers, do título de cada episódio e sua numeração (o piloto é o episódio zero, como nos loops de dados) à referências obscuras de distribuições Linux e ferramentas de hacking reais, diga-se de passagem.

Mas não é só isso. A vida de Elliot já é complicada, graças a sua introspecção doentia e sua total falta de traquejo social, e começa a entrar numa espiral de dilemas e conflitos à medida em que a narrativa se desdobra.  Alguns episódios fazem uma metáfora entre a vida de Elliot e termos de sistemas de informação, como daemons, debug e exploits, além de como redes sociais, além de criarem simulacros das pessoas, também servem como inesgotável fonte de informação para que as mesmas tenham suas vidas completamente reviradas por hackers.

A série mostra que já vivemos uma distopia cyberpunk, que mistura elementos de 1984, com o Estado nos observado a cada passo, Admirável Mundo Novo, com a alienação das pessoas diante dos verdadeiros problemas sociais que estão diante de todos, Neuromancer, onde o cyberespaço é a Internet, e os cowboys são os hackers, que decidem se vão vestir o chapéu branco ou o chapéu preto ao invadir pessoas e empresas. Num dado momento um dos personagens comenta que nunca viu um vírus digital que canta e dança, e ainda completa “aposto que nesse exato momento um roteirista de Hollywood está trabalhando forte em algum show de TV que vai arruinar a ideia de cultura hacker para essa geração”.

Não é?

Bonus queer fanboy: a série tem um personagem gay e ele é casado com Randy Harrison, o Justin de Queer as Folk. Tem outro personagem que é bissexual, e protagoniza uma cena intensa de sexo. E por fim, tem um importante personagem para a trama que é trans, que é tratado com respeito e reverência.

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